Entrevista com P.R.


AREVISTA_Um rockstar vive mesmo de sexo, drogas e rock n’ roll?


Paulo Ricardo: Parte da magia do rock está ligada à origem negra e basicamente à liberdade musical e expressão da sensualidade, raça, religiosidade, suíngue. Esses elementos, mais que uma visão hedonista, fazem parte da relevância cultural do século XX. O rock é uma manifestação popular. Essa faceta libertária ainda sobrevive nos dias de hoje. O rock é um gênero abrangente que abraça a outros sem perder suas características, um dos gêneros modernos mais flexíveis, por isso essa permanência e renovação. É possível sim fazer um rock desassociado ao sexo, como o U2, que sempre trouxe uma certa religiosidade e engajamento político na maneira de fazer música.



AREVISTA_E como foi para você naqueles anos do RPM?

Paulo Ricardo: Não era bem assim, “sexo, drogas e rock”. Isso é estereótipo que faz parte do todo. E não faria ninguém desmistificar isso. No rock trabalha-se com a imagem e esse componente é valorizado. Mas também deve-se produzir, compor, preparar arranjo. Por exemplo, quando o vício que eu tinha me incomodou, mudei de hábito. A minha atividade é muito física e preciso de fôlego e energia para cantar, tocar. Ou eu largava ou eu morria.



AREVISTA_ Pegava muita mulher nessa época?

Paulo Ricardo: Não, porque eu me casei muito cedo, aos 23, com a mãe da minha filha. Época da “Rádio Pirata”, shows quase que diários, promoções, trabalho, encontros. Caía a noite e fazia-se mais shows, no outro dia acordávamos cedo... e por aí vai. Há uma certa sensualidade no rock e isso tudo faz parte do espetáculo e da música, mas não quer dizer que saindo do palco será dessa maneira.



AREVISTA_ Depois do RPM você teve uma fase onde deixou de concorrer com Legião Urbana, Capital Inicial e foi concorrer com Roberto Carlos, Fábio Junior! Você começou a usar paletó, cabelo curto e até casaco de zebra...

Paulo Ricardo: Não acho graça desse período. Não gosto da imagem daquela época. Exagerei na brincadeira de cantor brega. Foram três anos. Apesar de eu renegar aquele visual, não renego nenhum dos discos que me projetaram para a América Latina.



AREVISTA_ E como os fãs reagiram às suas mudanças?

Paulo Ricardo: No começo tive uma decepção enorme. Foram anos difíceis. O público aberto é pequeno. Ninguém espera que um cara dos anos 80 faça algo novo.



AREVISTA_ Hoje você está à frente da banda PR.5. Poderia falar sobre ela?

Paulo Ricardo: Depois de três anos dessa proposta utópica de tentar unir os “dois Brasis” (o popular e o da elite) e trazer informação do rock para o segmento popular, surgiu o PR.5. Antes a minha proposta era uma questão ligada ao social, mais que estética. Nessa fase eu fui me sentindo desconfortável pois não tinha referências em comum como, por exemplo, o Frejat, os Titãs. Depois da regravação de “Imagine” decidi que já tinha feito tudo o que queria e decidi voltar para o rock. Essa transformação deve-se também a um pouco da minha personalidade libriana. Em 2004 montei a banda PR.5 que tem um ar mais radical e que funde rock com pop, hip hop e outras tendências. Tive críticas positivas, mas sem sucesso comercial.

AREVISTA_ E aquela história que o rock morreu?


Paulo Ricardo: Gosto dos cruzamentos e das fusões. Acabei de fazer uma música com o Andreas Kisser do Sepultura. Sou muito mais ligado às fusões do que propriamente ao rock tradicional. Essa coisa de rock tradicional ficou pulverizada.



AREVISTA_ Você é um cara saudosista? Do tipo que fica relembrando aquela época do auge do RPM?

Paulo Ricardo: Parece muita falta de imaginação congelar um determinado período da vida. Sem dúvida foi um privilégio grande ter estado no RPM, porém não há sentido em manter aquela histeria por parte, principalmente, do universo adolescente. A vida segue e é preciso colocar prioridades ao longo dela. O que acontece, por exemplo, hoje em dia com o Jonas Brothers é uma vez na vida.



AREVISTA_ Vamos falar de RPM, que teve início nos anos 80 e chegou ao fim em 89. Como foi presenciar o cenário do rock nacional tomando um outro horizonte no final dos anos 80?

Paulo Ricardo: Ao mesmo tempo que estávamos envolvidos com novos problemas, o Plano Collor e o Plano Cruzado estavam afetando o Brasil de maneira drástica. Nessa época, o rock se posicionou e procurou seu lugar, abrindo mão do espaço popular. O Plano Real decretou o acesso à cultura e influenciou o que a massa estava ouvindo, radicalizando a história do rock.



AREVISTA_ Vocês eram uma banda underground. Qual foi o impacto do estouro do rpm?

Paulo Ricardo: O que as pessoas percebem como estouro é uma frequência indeterminada de trabalho. Me lembro de uma entrevista a qual o P.A. (então baterista do RPM), ao ser perguntado qual era o seu sonho, respondeu: “meu sonho agora é dormir”. Não parávamos para nada!



AREVISTA_ Dava para ganhar muito dinheiro?

Paulo Ricardo: Ganhávamos muito dinheiro, mas gastávamos muito também.



AREVISTA_ Como foi lidar com o fim no auge do sucesso?

Paulo Ricardo: Foi difícil. Do ponto de vista administrativo tivemos incentivos errados, não sabíamos como lidar com aquilo tudo. Não tínhamos saco para administrar a parte financeira do sucesso. Do ponto de vista social, o fim do RPM afetou a todos.



AREVISTA_ Mas depois desse período você também tomou um outro rumo, começou a cantar baladas e tal. Aquela renovação tem a ver com a queda do rock para você?

Paulo Ricardo: O Bob Dylan lançou disco novo agora! E sem mudar o que vinha fazendo. Para acompanhar a mudança do tempo tem que ser fiel ao que faz. Muita banda havia acabado por causa disso. E não escondo o fato de gostar de ser popular. Todo disco novo é uma incógnita e quando comecei a cantar baladas e músicas românticas estava num momento mais emocional, querendo o contato com o público. Senti muito preconceito por causa disso.



AREVISTA_ Paulo, poderia selecionar os highlights da sua carreira?

Paulo Ricardo: Tiveram vários. Mas eu olho para trás e os momentos que eu guardo são aqueles nos quais eu interagi com artistas como Caetano, Roberto, B.J. Thomas e compus com Milton, Chico Buarque. Ah, e as indicações ao Grammy...



AREVISTA_ E aquele lance de entrevistar a Yoko Ono para o Fantástico?

Paulo Ricardo: Foi inesquecível. Uma emoção grande. Estávamos esperando a autorização da Yoko, que deu entrevista para o Fantástico. Ela é muito simpática. Não hesitou quando autorizou que eu regravasse “Imagine”. Ela adorou a minha versão. Tivemos mais de uma hora de conversa nesse dia. Até toquei para ela!



AREVISTA_ Você se espelhou nos Beatles?

Paulo Ricardo: Olha... na verdade eu queria ser Roberto Carlos. Minha inspiração veio dos Beatles e do Roberto Carlos. Quando assisti ao clipe de Roberto fiquei louco. Já os Beatles, os conheci com 10 ou 11 anos.



AREVISTA_ Quais os projetos para o futuro?

Paulo Ricardo: Estou muito ligado ao Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura) agora. Acabamos de produzir a música “Matar ou Morrer” sob encomenda do diretor Elias Junior para o filme “Rota Comando, O Filme”. Também há o álbum inédito em inglês que lançarei em breve.



AREVISTA_ Volta com o RPM?

Paulo Ricardo: Ter conseguido lançar o livro e o box foi uma espécie de fechamento da história do RPM. Conseguimos colocar toda a produção dos anos 80 aí e ainda alguns vídeos originais. Foi muito bacana.



AREVISTA_ para finalizar: rock é...?

Paulo Ricardo: Atitude.






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